Incomodada com a grande quantidade de câmeras em São Paulo, a artista e engenheira elétrica mineira Sara Lana decidiu criar um equipamento para encontrar pontos cegos, onde as câmeras não existem.
Pode parecer que a garota está a serviço de bandidos, os únicos beneficiários com tal equipamento anti-câmeras, mas segundo ela, sua preocupação é a ‘privacidade’. Ela diz ainda, que ao invés de ajudar, as câmeras atrapalham.
Contudo, já chegam aos milhares os crimes elucidados por causa do uso das câmeras.
Que a Sara tenha sempre a sorte de não cruzar com nenhum estuprador quando estiver andando pelos pontos cegos para não ser vista por ninguém. Afinal, com certeza, nenhum dos detentos que esquartejam pessoas nos presídios, quando estiver livre de novo, vai querer ‘conversa’ sobre estado de direito, violência e abuso sexual.
Paul Sampaio – Autor
Sorria que eu estou te filmando
Fonte: TRIP TV
São Paulo possui mais de 1 milhão de câmeras de segurança, de acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Equipamentos Eletrônicos de Segurança.
Numa cidade onde há aproximadamente uma câmera para cada dez habitantes, a artista e engenheira elétrica mineira Sara Lana decidiu encontrar pontos cegos. Durante semanas, ela andou pela cidade com um capacete que registrava trechos sem este tipo de vigilância.
Saiba mais sobre a ‘grande ideia’ de Sara, e quão útil será o ‘mapa de pontos cegos’ para as facções criminosas PCC, CV e FDN, e quantas mais vierem. Caso você goste da ideia, ou faça parte de alguma dessas facções, você pode até colaborar com uma ‘grana’ para o projeto dela, como você lerá a seguir.
Fonte: Redbull Station
Residência Hacker: Conheça o projeto Pontos Cegos de SP
No último mês, a mineira Sara Lana tem saído diversas noites pela cidade vestindo um capacete cheio de sensores.
O projeto da engenheira elétrica com formação transdisciplinar em artes é detectar os pontos não filmados de São Paulo, lugares que escapam da vigilância das câmeras de segurança que hoje em dia dominam o espaço urbano. Pontos Cegos de SP vem sendo desenvolvido nos últimos dois meses durante a Residência Hacker do Red Bull Basement.
“No ano passado, fiz um estudo de caminhadas pela cidade por um viés sonoro com um parceiro meu chamado Marcelo XY. Procuramos vias de escape por esse viés. E então começamos a conversar muito sobre câmeras, algo que gera uma inquietação grande em mim, porque eu sempre adorei ver as imagens, mas ao mesmo tempo me sentia muito invadida ao me ver em gravações em portarias de prédio, por exemplo. Conversamos muito sobre isso e começamos a pensar na questão dos pontos cegos e das rotas de fuga, não só pelo viés acústico mas também visual”, conta Sara.

“Acho muito séria a questão da vigilância. As câmeras públicas têm uma questão delicada que envolvem muito a influência do Estado na vida do cidadão, a coisa da liberdade civil, mas as câmeras privadas talvez me assustem mais porque as públicas a gente consegue acessar os dados, já as privadas não, e isso é algo que está se multiplicando — você não sabe quem te vê, por quanto tempo as imagens são armazenadas. E sinto que é um consenso de solução de segurança pública o uso de câmeras, e que é uma solução mais reativa do que preventiva, que afasta a gente de uma discussão real sobre o assunto”, coloca ela. “Vindo pra cá, achei que seria legal criar uma ferramenta capaz de detectar onde estão as câmeras, fazer um mapeamento”.
O QUE É O PROJETO?
O sistema de detectar as câmeras de vigilância da cidade feito por Sara é constituído por um capacete com sensores e um mapa que reúne os dados captados por esse capacete.
“Não é trivial detector de câmera, tem várias pessoas tentando achar soluções pra isso e não conseguem. Então eu fui pra uma solução que é a detecção de infravermelhos: todas as câmeras fabricadas hoje têm um sistema de visão noturna, então quando anoitece elas ligam o infravermelho. Daí eu bolei um capacete com um microcontrolador, que manipula os dados, e com sensores que operam exatamente na banda de frequência eletromagnética dessas câmeras”, explica a engenheira.
Na prática, funciona assim: “Quando o capacete detecta uma câmera ele acende um LED, olha no GPS qual a coordenada do local e grava no cartão SD. Aí eu volto, descarrego o cartão e ele sobe automaticamente para um mapa que está sendo construído no meu site. E minha intenção a longo prazo é cobrir todo o hipercentro de São Paulo”, conta ela.
Quem se interessar pela ideia pode colaborar: no site da residente, há todas as informações de como construir o capacete, e as pessoas podem compartilhar a localização dos pontos filmados da cidade via Telegram, ajudando Sara a construir esse mapa acima, que mostra os locais onde há câmeras e as vias “cegas” em meio a eles.
“O capacete é interessante porque ele chama a atenção, mas te dá essa consciência do momento exato em que você está sendo filmado. Eu tenho vontade de sair andando com esse capacete mundo afora agora”, diz ela.
Quem quiser saber mais sobre o projeto, a apresentação dele é nesta noite no auditório do Red Bull Station (evento ocorrido no dia 4 de outubro de 2016).
(Por Adriana Terra)