Homenagem da Rede Globo em 2 de junho de 2002 para o jornalista Tim Lopes, que havia sido assassinado por traficantes do Rio de Janeiro.
Em um editorial de encerramento emocionante, William Bonner termina o Jornal Nacional quebrando o protocolo da casa, e chamando os aplausos de todos os colegas de Tim que estavam na redação do Jornal durante a gravação.
Tim Lopes |
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Nascimento | 18 de novembro de 1950 Pelotas, ![]() |
Morte | 2 de junho de 2002 (51 anos) Rio de Janeiro, ![]() |
Nacionalidade | Brasileiro |
Ocupação | Jornalista |
Arcanjo Antonino Lopes do Nascimento, conhecido como Tim Lopes (Pelotas, 18 de novembro de 1950 — Rio de Janeiro, 2 de junho de 2002), foi um repórter investigativo brasileiro, produtor da Rede Globo desde 1996.
Cursou Jornalismo na Faculdade Hélio Alonso (FACHA), Rio de Janeiro.
Seu primeiro trabalho foi na revista Domingo Ilustrada, do jornalista Samuel Wainer, como contínuo.
Quando começou a fazer reportagens na rua, passou a ser chamado de Tim Lopes.
Segundo amigos, o “nome artístico” teria sido dado pelo próprio Samuel Wainer, devido à semelhança do jornalista com o cantor Tim Maia.[1]
Uma de suas primeiras reportagens foi publicada na década de 1970, no jornal alternativo “O Repórter”. A matéria relatava as precárias condições de trabalho dos operários na construção do metrô do Rio. Para produzi-la, Tim Lopes trabalhou como peão na própria obra.
Trabalhou também na sucursal do Rio de Janeiro da Folha de S.Paulo, nos jornais “O Dia“, “Jornal do Brasil” e “O Globo” e na revista “Placar“.
Na TV Globo, participou de uma série de reportagens do programa “Fantástico“, que promoviam o encontro de familiares de vítimas com assassinos presos.
Internou-se por dois meses em uma clínica para dependentes químicos para uma reportagem sobre o assunto. Em 2001, Lopes foi um dos ganhadores do Prêmio Esso. Era considerado pelos colegas de profissão como um dos mais corajosos e audaciosos repórteres investigativos em atividade.
Tim Lopes desapareceu em 2 de junho de 2002. Depoimentos de narcotraficantes presos indicam que ele teria sido sequestrado e morto entre as 22 e 24h daquele dia. Sua morte somente foi confirmada a 5 de julho, após exame de DNA dos fragmentos de ossos encontrados num cemitério clandestino.[2]
Era casado com a estilista Alessandra Wagner havia dez anos. Tinha um filho de 19 anos, Bruno, nascido do seu primeiro casamento.
Biografia
Prêmios
Em 2001, recebeu o Prêmio Esso com a equipe da Rede Globo pela reportagem “A Feira das Drogas”, em que denunciava, por meio de uma câmera escondida, a venda livre de drogas no complexo do Morro do Alemão. Foi o primeiro prêmio Esso concedido na categoria televisão. Recebeu ainda o 11º e o 12º Prêmio Abril de Jornalismo, na categoria Atualidades, pelas matérias “Tricolor de Coração” publicada na revista Placar de dezembro de 1985, e “Amizade sem Limite”, de maio de 1986. Em fevereiro de 1994, recebeu um prêmio de melhor reportagem feita no jornal O Dia pela série “Funk: som, alegria e terror” – ironicamente, o mesmo tema de sua última grande reportagem na TV Globo.

Morte anunciada
A jornalista e ex-produtora do Jornal Nacional da TV Globo, Cristina Guimarães, que dividiu o Prêmio Esso com Tim Lopes,[3] produzia com ele as matérias de jornalismo investigativo do telejornal. Ameaçada de morte, saiu da emissora sete meses antes do assassinato de Tim Lopes. Segundo ela, a direção de jornalismo da Rede Globo foi informada sobre as ameaças que sofria por parte dos traficantes, mas nada fez para protegê-la.[4]
“Eu falei sobre os riscos que estávamos correndo sete meses antes de os traficantes do Alemão matarem o Tim Lopes. Eu implorei por atenção a estas ameaças e o que fez a TV Globo? Ignorou tudo. Sete meses depois, eles pegaram o Tim. Na ocasião do Prêmio Esso, antes de o Tim ser morto, eu liguei para ele e o alertei sobre os riscos de ter exposto seu rosto nos jornais. Na nossa profissão, é preciso ter muito cuidado para mostrar a cara. É muita ingenuidade achar que traficante não assiste TV e não lê jornal.” Posteriormente, a jornalista entrou com uma ação judicial contra a rede, reclamando da falta de segurança para os jornalistas da emissora.
Em razão das ameaças sofridas, Cristina decidiu sair do Brasil.[5][6]
Por volta das 17 horas do dia 2 de junho de 2002, domingo, Tim Lopes foi até a favela Vila Cruzeiro, no bairro do Complexo do Alemão, subúrbio do Rio de Janeiro, com uma microcâmera escondida numa pochete que levava na cintura, para gravar imagens de um baile funk promovido por traficantes de drogas. Ele havia recebido uma denúncia dos moradores da favela de que no baile acontecia a exploração sexual de adolescentes e a venda de drogas. Iria verificar também a informação de que os traficantes construíram um parque infantil numa via de acesso à comunidade, para dificultar a ação da polícia, e que desfilavam armados de fuzis.
Os traficantes estranharam a presença de Tim Lopes no local. Há suspeita de que, uma vez descoberto, sua morte tenha sido decidida como vingança pela reportagem feita anteriormente, sobre a venda de drogas no morro, veiculada em agosto de 2001 pela TV Globo. Depois dessa reportagem, vários traficantes foram presos e o tráfico da região teve um prejuízo em suas atividades criminosas por um longo tempo. Outras hipóteses são de que Tim Lopes tenha sido confundido com um policial ou um informante da polícia.
Segundo testemunhas, a morte de Tim Lopes foi definida pelo traficante Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, um dos líderes do grupo criminoso Comando Vermelho, que dominava o Complexo do Alemão. As investigações indicam que participaram do crime outros nove traficantes de sua quadrilha. Antes da execução, os traficantes fizeram uma espécie de julgamento para decidir sobre a morte do jornalista. Ele foi torturado, antes de ser assassinado com uma katana. Em seguida, o corpo teria sido esquartejado e queimado (método conhecido como “micro-ondas”[7][8], usado para ocultar o cadáver e o crime) no morro da Grota.[2][8]
Repercussão
Embora fosse um jornalista destacado, Tim Lopes somente se tornou conhecido nacionalmente após sua morte, num crime que chocou o país, tendo a sua repercussão aumentada em grande parte pela influência da Rede Globo como formadora de opinião. Seu desaparecimento ocupou muitas edições do Jornal Nacional, o que aumentou a pressão sobre as autoridades pela captura de todos os criminosos envolvidos; o jornal também passou a usar a expressão Poder paralelo para definir os grupos criminosos existentes nas favelas cariocas. Embora a resolução do caso fosse considerada pela sociedade em geral como uma prioridade, até pela afronta que representou à liberdade de expressão, houve quem criticasse o fato de que não tenha havido o mesmo empenho da polícia no caso de outros crimes onde não houve a influência de alguma organização influente.[9]
Caçados pela polícia, um a um, todos os criminosos foram presos ou mortos, até que finalmente Elias Maluco foi preso em setembro, no alto da favela, após uma mega-operação policial.[10]
Tim Lopes foi homenageado pela escola de samba Acadêmicos do Tucuruvi no carnaval do ano seguinte, com o enredo “Não calem minha voz“, uma homenagem à imprensa, onde um dos versos dizia “a verdade tim-tim por tim-tim”, numa referência ao apelido do jornalista. [11]
Condenações
Entre os que participaram da morte de Tim Lopes, foram julgados e condenados em júri popular: Elias Pereira da Silva, o “Elias Maluco”, condenado a 28 anos e seis meses de reclusão; Cláudio Orlando do Nascimento, o “Ratinho”; Elizeu Felício de Souza, o “Zeu”; Reinaldo Amaral de Jesus, o “Cadê”; Fernando Sátyro da Silva, o “Frei”; e Claudino dos Santos Coelho, o “Xuxa”, todos condenados a 23 anos e seis meses de prisão. Ângelo Ferreira da Silva, o “Primo”,[12] foi condenado a 15 anos por ter tido uma participação menor no crime e ter colaborado com a polícia, mas, ao ser beneficiado com o regime semiaberto, teve direito à visita periódica aos familiares e ficou foragido de 7 de fevereiro a 26 de maio de 2010, quando foi recapturado pela polícia.[8][13]
Outros partícipes, André da Cruz Barbosa, o “André Capeta”; Flávio Reginaldo dos Santos, o “Buda”; e Maurício de Lima Matias, o “Boizinho”, foram mortos em confronto com a polícia.
O criminoso Zeu, beneficiado mais tarde pela progressão de regime,[14] acabou fugindo da prisão em 2007, quando recebeu o benefício do regime semiaberto. Denúncias levaram investigadores a crer que ele teria sido morto em 2007, pelo traficante Tota, depois de ter assassinado a própria mulher.[15] Em dezembro de 2008, houve nova decisão judicial no sentido de conceder benefícios judiciais a criminosos envolvidos no caso.[16] Em 28 de novembro de 2010, às 15 horas e 02 minutos o traficante Zeu se entregou à polícia diante de uma grande operação de pacificação do Complexo do Alemão. Segundo a polícia, ele se rendeu, em sua casa, às forças de segurança que ocupam o conjunto de favelas.[17]